Até a sexta-feira, 6, o litoral catarinense corre o risco de enfrentar ressaca provocada pelos ventos fortes e mar agitado a grosso que atingem a região. É comum que no outono, época em que as frentes frias começam a chegar com mais frequência em Santa Catarina, aumente a probabilidade de ocorrência destes eventos que causam erosão costeira.
Os pesquisadores da Epagri/Ciram Luiz Fernando de Novaes Vianna, Carlos Eduardo Salles de Araujo e Argeu Vanz publicaram artigo que auxilia na compreensão da dinâmica dos eventos de erosão costeira, suas consequências e formas de evitar os prejuízos causados por eles. O texto compõe a coluna Conjuntura da revista Agropecuária Catarinense, veículo de divulgação científica publicado pela Epagri.
“A ameaça das ressacas sempre existiu, mas devido às mudanças climáticas globais os eventos se tornaram mais frequentes e intensos na última década”, destacam os autores. Eles descrevem que a ressaca é uma elevação anormal do nível do mar na costa, com a presença de ondas acima da média, podendo provocar inundação costeira, erosão e a destruição de estruturas em alguns casos. Está associada à ocorrência de sistemas atmosféricos de baixa pressão no oceano, com ventos intensos e tempestades.
Ambientes suscetíveis à erosão
O artigo científico ressalta que as praias são ambientes suscetíveis à erosão em algumas épocas do ano. Contudo, existe um equilíbrio dinâmico e a faixa de areia é naturalmente recomposta ao longo dos meses. Interferências externas, principalmente aquelas relacionadas às mudanças climáticas e à influência das ocupações humanas na zona costeira, podem agravar os processos erosivos, tornando-os permanentes em algumas localidades.
“No caso da Ilha de Santa Catarina, os dois fatores estão presentes. As crescentes ocupações humanas sobre as áreas de dunas na última década contribuíram de forma expressiva para a elevação da vulnerabilidade e, consequentemente, para a elevação do risco. Essas áreas já são naturalmente suscetíveis à erosão e por isso são consideradas de preservação permanente pela legislação”, descrevem os autores.
O trabalho publicado pelos pesquisadores da Epagri/Ciram compila dados da Organização Não Governamental (ONG) Floripa Amanhã. Ela acompanhou eventos de ressaca causadores de prejuízos na zona costeira de Florianópolis em 2010, 2011, 2017, 2018, 2019, 2020 e maio de 2021.
Mitigação de riscos
Por fim, o artigo sugere como forma de mitigação do risco de ressaca em Florianópolis cinco estratégias estabelecidas pelo Projeto Eurosion. A primeira delas é evitar a intervenção humana na linha costeira ou alterar a sua posição. Trata-se da opção de menor custo, maior eficiência e menor impacto na dinâmica costeira. A segunda recomendação é retirar estruturas já implantadas, para que a linha de costa retome sua dinâmica natural, numa ação regenerativa.
Proteger, através da construção de estruturas que alterem a dinâmica natural do litoral é a terceira ação recomendada, porém essa opção resulta na descaracterização do ambiente. Também é possível impedir avanços da linha costeira em direção ao mar, como, por exemplo, através do engordamento da faixa de areia nas praias, medida que impacta a dinâmica natural do ambiente.
A última medida seria a intervenção limitada. Trata-se de uma estratégia regenerativa, onde empregam-se sobre a linha da costa procedimentos não rígidos, utilizando elementos naturais, como vegetação costeira, permitindo a manutenção da dinâmica de forma menos intensa. “Diante da necessidade de ocupar uma área suscetível aumentando a sua vulnerabilidade, deve-se calcular os riscos previamente e ponderar os benefícios frente aos possíveis prejuízos”, finalizam os autores.
Informações e entrevistas
Luiz Fernando de Novaes Vianna, pesquisador da Epagri/Ciram
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