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BLOG-Epagri

Homeopatia para animais e plantas torna a agropecuária mais limpa e segura

  • Pecuária
Foto: Nilson Teixeira/Epagri

A homeopatia é um método terapêutico que causa desconfiança e levanta discussões inflamadas. Uma alegação comum daqueles que se posicionam contra é que os resultados do tratamento são decorrentes do efeito placebo, ou seja, a pessoa melhora apenas por saber que está sendo tratada. Mas o que dizer quando os enfermos são animais e vegetais que, mesmo não “sabendo” que estão recebendo tratamento, melhoram de seus males?

Depois de mais de dez anos desenvolvendo ações de pesquisa e extensão com o uso da homeopatia na agropecuária catarinense, a Epagri mostra resultados da eficiência do método. Plantas e bichos não sabem, mas estão sendo tratados de doenças com gotinhas que carregam princípios curativos, não atacam o meio ambiente e nem causam efeitos adversos à saúde dos consumidores.

A homeopatia surgiu nos trabalhos da Epagri no início dos anos 2000 como proposta inovadora em apoio ao cumprimento de sua missão: conhecimento, tecnologia e extensão para o desenvolvimento sustentável do meio rural, em benefício da sociedade. Segundo estudos desenvolvidos pela Empresa, o tratamento homeopático promove uma agricultura limpa, com bons índices de produtividade e baixo custo.

Mecanismos da agricultura não são claros, mas os resultados podem ser mensurados (Foto: Alexandre Giesel)

Sucesso na pecuária

Marcelo Pedroso, médico-veterinário e extensionista da Epagri em Criciúma, é um dos responsáveis pelo sucesso no uso dessa terapia em rebanhos bovinos no sul do Estado. Em 2007 a Epagri aprovou a especialização de sete profissionais dos seus quadros em homeopatia, entre eles Marcelo. Naquele mesmo ano ele iniciou um trabalho voltado para a produção leiteira. Hoje são 25 propriedades da região buscando a cura dos rebanhos com o uso de medicamentos homeopáticos.

“As vantagens para o produtor são muitas. Além de oferecer um custo significativamente mais baixo no tratamento de doenças em relação aos métodos convencionais, a homeopatia não deixa resíduos nos produtos derivados dos animais”, relata o médico-veterinário. Ele explica que os medicamentos convencionais, principalmente os antibióticos, obrigam o produtor a descartar todo o leite da vaca durante o tratamento, além respeitar um período de carência. Como a homeopatia é uma terapia que não deixa resíduos, o leite do animal em tratamento, exceto o do teto comprometido, pode ser aproveitado para consumo e enviado para a indústria com segurança, reduzindo as perdas do produtor.

Essa vantagem pode ser observada no tratamento das mastites clínica e subclínica. Nesses casos, os tratamentos alopáticos têm pouca indicação, pois além da baixa eficácia, acabam contaminando todo o leite do animal. Com a homeopatia, os produtores têm conseguido controlar a doença com eficácia superior à dos métodos convencionais, sem precisar descartar todo o leite e com a vantagem de retomar a produção mais rapidamente.

A homeopatia também tem mostrado bons resultados na cura de doenças de pele, respiratórias, reprodutivas, entre outras enfermidades dos rebanhos, sejam elas agudas ou crônicas. “Há um vasto potencial para essa terapia na produção leiteira e, muito além da questão econômica, os benefícios conduzem os rebanhos no caminho de uma produção mais limpa e segura”, destaca Marcelo.

Para divulgar a homeopatia na produção de leite o extensionista da Epagri vem realizando, há quase uma década, uma série de eventos no Sul Catarinense. Nessas iniciativas já foram capacitados profissionais e jovens rurais, mas a principal ação foi encerrada em maio de 2016. Na ocasião, 14 agricultores e 36 técnicos da extensão rural da Epagri, de cooperativas, associações e da iniciativa privada, todos do sul do Estado, se formaram em homeopatia agropecuária.

Agora essas pessoas estão atuando como multiplicadores da informação para difundir ainda mais o uso da terapia na produção de leite no sul de Santa Catarina, relata Marcelo Pedroso. Ele destaca como parceiro Lucio Teixeira de Souza, extensionista da Epagri em Braço do Norte, por seu apoio na realização do curso e na divulgação da homeopatia entre os agricultores familiares da região.

Leandro Esteves produz leite na cidade de Forquilhinha e optou pela homeopatia em 2014, quando participou do curso de jovens rurais promovido pela Epagri. Empolgado com os conhecimentos adquiridos nesse primeiro contato, ele se inscreveu no curso encerrado em maio último, e hoje é só elogios para o método terapêutico alternativo.

A propriedade de Leandro tem 23 vacas produzindo. Ele calcula que entre 70% e 80% do tratamento do rebanho seja feito à base de homeopatia. Com a terapia ele controla a mastite com sucesso e já obteve experiências exitosas no combate a carrapatos, no controle da diarreia em bezerros e no apoio à reprodução. Após a opção pelo novo tratamento ele comemora a redução nos custos com medicamentos e a manutenção da produtividade, o que representa mais lucro no final do mês.

Laboratório de Homeopatia da Epagri realiza pesquisa colaborativa com diversas instituições (Foto: Alexandre Giesel)

Transição agroecológica

Além de tratar animais e plantas, a homeopatia pode também recuperar solo e água. “Por isso, é muito usada na transição do sistema convencional para o agroecológico”, explica o engenheiro-agrônomo Pedro Boff, pesquisador da Estação Experimental de Lages (Epagri/EEL), que coordena projetos colaborativos na área desde 2003.

Boff explica que a homeopatia existe, de forma experimental, desde antes do surgimento da indústria farmacêutica, que aconteceu por volta de 1800. Apesar de ser antigo, o método ainda levanta dúvidas no meio científico, pois seus mecanismos ainda não estão claros para a ciência convencional, embora já tenham sido demonstrados pela física quântica. Mas seus resultados podem ser mensurados, o que, segundo o engenheiro-agrônomo, comprova sua eficácia.

“A racionalidade da homeopatia é diferente da ciência cartesiana, já que no tratamento homeopático a demonstração se dá pelo resultado”, informa Boff para tentar esclarecer alguns dos motivos da desconfiança sobre o método. Ele conta ainda que, como são de domínio público e não podem ser patenteados, os remédios homeopáticos nunca foram objeto de estudos de grandes laboratórios com interesses comerciais, o que justifica o número limitado de pesquisas na área e o desconhecimento geral sobre o tema.

O princípio ideal de cura da homeopatia dispõe que o tratamento deve ser suave, rápido e duradouro. Trata-se de uma provocação ao organismo para ele reagir e suplantar o quadro enfermo. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, o tratamento não é lento. “Em casos agudos ele tem resultados imediatos, em casos crônicos ele pode ser mais demorado”, esclarece Boff.

Para animais são usados preparos similares aos empregados em humanos e a medicação pode ser aplicada em gotas misturadas à ração ou à água. Já no caso de tratamento de plantas, levam-se em conta as características fenológicas, a espécie e o meio de cultivo, e o tratamento pode ser feito durante dias ou em dose única, com aplicação nas folhas, via irrigação, nas sementes ou nas mudas.

O tratamento em animais e vegetais deve ser sempre acompanhado de perto por um terapeuta com formação na área de homeopatia. “É o terapeuta homeopata que indica o melhor remédio e a potência mais adequada. Assim, se o agricultor se formar nessa área, ele pode ter autonomia na propriedade”, diz Boff. O terapeuta tem conhecimento para produzir os preparados homeopáticos, mas eles também podem ser adquiridos em farmácias homeopáticas ou de manipulação, já que a Instrução Normativa no 17, de 18 de junho de 2014, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), prevê o uso desses preparados sem restrição para tratamento de animais e plantas.

O Brasil é o país que mais usa a homeopatia na agropecuária. Juntamente com Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, Santa Catarina é um dos estados que está mais à frente no uso dessa terapia na agricultura familiar. O método terapêutico vem sendo testado no território catarinense para produção de cebola, hortaliças, frutas e plantas medicinais. Ele também vem sendo usado com êxito na criação de abelhas e ovelhas, mas é na produção de leite que a Epagri alcançou os melhores resultados até agora.

Laboratório na Epagri

A aproximação da Epagri com a homeopatia iniciou em 2001, quando pesquisadores da Estação Experimental de Ituporanga (Epagri/EEItu) pensaram no método para viabilizar a produção de cebolas orgânicas. No ano seguinte o engenheiro-agrônomo Pedro Boff, então pesquisador dessa unidade, começou curso de especialização no Centro de Estudos Avançados em Homeopatia de Piracicaba (CESAHO), concluído em 2002.

Em 2004 a Epagri e a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) aprovaram, via Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), seu primeiro projeto de pesquisa e extensão em homeopatia integrada, no município de Santa Terezinha. Três anos depois, em 2007, mais um passo importante: a Empresa aprovou a especialização de sete médicos-veterinários em homeopatia que hoje atuam em diferentes regiões do Estado.

Mas o grande marco veio em 2011, com a aprovação pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) da instalação do Laboratório de Homeopatia e Saúde Vegetal na Epagri/EEL como componente de inovação do projeto iniciado em 2004. Antes disso, a Empresa mantinha nessa mesma unidade um centro de experimentos homeopáticos que operava com equipamentos e insumos mínimos adquiridos com verbas da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), Caixa Econômica Federal (CEF) e CNPq, por meio do projeto Guarani Serra Geral.

Atualmente, o laboratório de Homeopatia e Saúde Vegetal realiza pesquisa colaborativa com cursos de pós-graduação da Udesc, Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac) e Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), além das próprias estações experimentais da Epagri, entre as quais se destaca a unidade de Ituporanga, que produz cebola homeopatizada. Por outro lado, a terapia homeopática vem sendo difundida e implementada na agropecuária catarinense por meio de cursos, palestras, estudos de caso e serviço de extensão promovidos pela Epagri e outras instituições. A natureza e os consumidores agradecem.

Gisele Dias – giseledias@epagri.sc.gov.br

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