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Enfit-Sul discute bioinsumos e consolida Chapecó como polo da fitossanidade no Sul do Brasil

Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, sediou entre os dias 7 e 8 de maio o II Enfit-Sul – Encontro Sul-Brasileiro de Fitossanidade, e o IV Workshop Estadual sobre Manejo Fitossanitário. Os eventos, que tiveram a Epagri entre as instituições promotoras, contaram com a participação de mais de 600 profissionais da área, além de estudantes, professores e pesquisadores interessados em temas relacionados à fitossanidade.

No evento, as discussões apresentadas pelos palestrantes buscaram refletir as perspectivas e desafios do uso de bioinsumos no controle de pragas e doenças na produção de alimentos (Fotos: Karin Helena de Moraes)

Este ano, o tema central foi a “Fitossanidade na era dos bioinsumos”, mercado em ampla ascensão no Brasil, que já lidera o uso em larga escala. De acordo com o levantamento publicado em 2023, pela CropLife e pela S&P Global, os bioinsumos devem movimentar no país, R$17 bilhões até 2030.

Deste modo, as discussões apresentadas pelos palestrantes buscaram refletir as perspectivas e desafios do uso de bioinsumos no controle de pragas e doenças na produção de alimentos. Para o professor e pesquisador da USP/Esalq, Dr. Italo Delalibera Jr., que realizou a palestra de abertura “Bioinsumos: mercado, tendências e aplicações”, o grande diferencial do evento é a participação massiva de profissionais ligados a empresas e cooperativas, mas, principalmente, de estudantes. “Tem muito estudante aqui, é o pessoal que vai estar no futuro escolhendo qual área seguir. Hoje a gente vê que o mercado de biológico está absorvendo muitos profissionais que vinham da área química, porque já existiam formação e gestão sólidas, por isso, é importante treinar esses profissionais”, avalia.

O pesquisador da Epagri e um dos organizadores do Enfit-Sul, Leandro do Prado Ribeiro, falou sobre a interação dos controles químico e biológico na produção de milho e soja

Italo ressalta que é fundamental compartilhar conhecimentos para que o produtor e os profissionais que prestam assistência compreendam que o bioinsumo não atua da mesma forma que um agente químico. “O produtor não sabe quando, como, quanto aplicar, qual a diferença entre um produto e outro, porque a linguagem é diferente. Por isso, precisamos da ajuda dos extensionistas, nós precisamos de muita gente para ajudar nesse processo. Eu acredito que uma das funções do evento é trazer essa informação diretamente para o público que está aqui “, afirma.

Na palestra de abertura foi apresentado o panorama, perspectivas e desafios para uso de bioinsumos no Brasil

O Enfit-Sul se estruturou sobre 4 eixos temáticos: fitossanidade na era dos bioinsumos, manejo integrado de pragas, manejo integrado de doenças e manejo integrado de plantas daninhas. Além da Epagri, foram realizadores do evento Cidasc, Unoesc, UCEFF Educacional, UFFS, Governo de Santa Catarina e Unochapecó. 

O que são bioinsumos?

Os bioinsumos são produtos de origem biológica utilizados na agricultura e na pecuária para substituir ou complementar o uso de insumos químicos e convencionais. Eles são baseados em microorganismos, como bactérias, fungos, extratos vegetais, e outras substâncias naturais. Eles também podem ser derivados de processos biotecnológicos industriais, ou, ainda, do modelo on-farm, utilizado na agricultura familiar. 

Os bioinsumos desempenham um papel importante na fitossanidade das plantas, sendo também aliados de um modelo de agricultura mais sustentável, uma vez que não agridem o meio-ambiente como os produtos químicos. Dentre os principais benefícios de seu uso se destacam a melhoria da nutrição das plantas, o combate de doenças e pragas com substâncias menos nocivas, a sanidade do solo e o desempenho de plantas e animais. 

 Os principais tipos de bioinsumos são:

  • biofertilizantes: que melhoram a nutrição das plantas, como fixadores de nitrogênio.
  • biopesticidas: usados para o controle e o combate de pragas e doenças.
  • bioestimulantes: promovem o crescimento e a resistência das plantas.
  • inoculantes: organismos que auxiliam as plantas a absorverem nutrientes do solo, dentre eles, o nitrogênio e o fósforo.
  • Probióticos e fitoterapêuticos: utilizados para melhorar a saúde e o desempenho de animais, sem a necessidade do uso de antibióticos.

O uso de bioinsumos no contexto catarinense

No Oeste de Santa Catarina as culturas que mais utilizam os bioinsumos são o trigo, o milho e a soja. A aplicação é realizada principalmente para o controle de pragas e doenças. Estes produtos agrícolas também são utilizados no tratamento de sementes de várias culturas, como, por exemplo, a soja, estimulando o crescimento da planta e aumentando sua resistência. 

As pesquisas desenvolvidas na Epagri sobre este tema estão em fase inicial. Na Estação Experimental de Itajaí existe um trabalho voltado para a produção de hortaliças. Já no Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), em Chapecó, são desenvolvidos alguns estudos, com foco, sobretudo, no controle de pragas nas culturas de milho, realizado pelo pesquisador Leandro do Prado Ribeiro e no manejo da giberela, a principal doença do trigo, desenvolvido pelo pesquisador João Américo Wordell Filho. Além disso, o uso de agentes biológicos são de extrema importância para a cultura do milho, uma vez que a cigarrinha-do-milho, uma das principais pragas detectadas nas lavouras catarinenses, não pode ser combatida apenas com o uso de agentes químicos, sendo recomendado o manejo integrado.

O pesquisador da Epagri/Cepaf e organizador do Enfit-Sul, João Américo Wordell Filho, acredita que o principal desafio para a ampliação do uso dos bioinsumos em Santa Catarina passa pelo aumento do número de pesquisas nesta área. Ele afirma que também é importante desenvolver cepas oriundas do próprio Estado. Isso porque, as cepas, que são as unidades básicas de microrganismos utilizadas na produção dos bioinsumos, não são provenientes do Sul do país. Por este motivo, não existe uma adaptação completa às condições catarinenses. 

Perspectivas para o uso de bioinsumos no Brasil

Italo Delalibera Jr. atua nesta área há mais de 30 anos e diz que já viu muitos movimentos acontecerem O professor avalia que este é um momento muito bom para os bioinsumos. Segundo ele, existe um processo de transição ecológica que propicia a diversificação de produtos e o aumento de portfólio. Ele acredita que o Brasil se destaca neste segmento porque sempre estudou o uso de agentes biológicos e porque criou um conjunto de competências que não são observadas em outros lugares do mundo. 

O professor avalia que o país ainda precisa avançar em alguns aspectos, como, por exemplo, no desenvolvimento de tecnologias que sejam voltadas exclusivamente para o uso de biológicos. Ele observa ainda, que em comparação com a Europa e os Estados Unidos, que avançaram no uso de bioinsumos devido à exigência dos consumidores por alimentos sem resíduos químicos, no Brasil isso ainda não aconteceu. “O Brasil tem uma imagem muito negativa do agro, que usa muito pesticida. O país é o maior consumidor de pesquisa química do mundo e utiliza mais de 700.000 toneladas de ativos químicos. Isso não é bonito, né? Não fica bonito fora do país saber que a gente usa muito mais produtos químicos do que qualquer outro país do mundo. É claro que a gente tem uma agricultura tropical com vários ciclos por ano, duas, três safras, num ambiente extremamente quente, propício a pragas, e doenças, mas são aspectos que precisamos melhorar”, afirma Italo.  

Brasil é líder mundial no uso de bioinsumos, mas sua aplicação, em comparação com o de agentes químicos. ainda é pequena

Além disso, ele acredita que os principais desafios para o uso dos bioinsumos no Brasil passam pela escassez de profissionais qualificados e bem-informados, tanto na pesquisa quanto na extensão rural. Ele cita outros fatores, como, o controle de qualidade, a cultura de aplicação baseada no calendário, como ocorre com os produtos químicos, e o cuidado que o produtor deve ter para não cair em soluções mágicas, que prometem erradicar todos os problemas. “Temos que tomar cuidado com essa ideia da multifuncionalidade. Precisamos pensar em qual é o nosso principal alvo. Não adianta ter um produto que faz tudo, mas faz tudo mal feito. Então, às vezes é melhor ter um produto para cada alvo e buscar mais mecanismos de ação, como produtos que induzam o sistema de defesa das plantas”, adverte Italo. 

Contudo, o pesquisador salienta que o Brasil já faz um uso amplo dos bioinsumos e que a tendência é expandir ainda mais sua utilização. Segundo dados da Global Farmer Insights, publicados em 2022, o Brasil é o país que mais utiliza biocontroladores, bioestimulantes e biofertilizantes, como é possível observar na imagem abaixo. 

Deste modo, eventos como o Enfit-Sul são uma grande oportunidade para profissionais do agronegócio, pesquisadores e estudantes trocarem experiências e informações sobre um mercado em constante evolução, impulsionando novas pesquisas e avanços.

Por: Karin Helena Antunes de Moraes, jornalista bolsista Epagri/Fapesc

Informações para a imprensa
Isabela Schwengber, assessora de Comunicação da Epagri: (48) 3665-5407 / 99161-6596

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