Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs) são aqueles vegetais que podem ser consumidos, mas não fazem parte do nosso cotidiano. Ora-pro-nóbis, hibisco, aroeira, erva-baleeira, moringa, língua-de-vaca, azedinha e picão-preto são alguns exemplos de PANCs que podem ser usadas para diversificar e enriquecer a alimentação com sabor e muitos nutrientes.
“Muitas PANCs tiveram ou ainda têm algum consumo tradicional em determinadas regiões ou culturas, mas estão caindo em desuso”, explica Cristina Ramos Callegari, extensionista da Epagri em Florianópolis. Também são consideradas PANCs as partes comestíveis não convencionais, como o coração e as flores da bananeira, as cascas da banana, a banana verde, a folha da batata-doce, o mamão verde e seu talo e a jaca verde. Algumas delas têm propriedades medicinais e seus compostos bioativos contribuem para promover a saúde.
A Epagri disponibiliza gratuitamente uma publicação sobre as PANCs e, recentemente, incluiu no aplicativo EpagriMob informações completas sobre 13 dessas plantas. O consumo das PANCs é amparado por uma série de pesquisas científicas, que indicam não só a segurança do uso, mas também as propriedades nutricionais e os compostos bioativos presentes.
Antes de consumir, é importante saber identificar corretamente a planta, as partes comestíveis e a forma de preparo. Algumas só podem ser consumidas após o cozimento, que é fundamental para eliminar substâncias tóxicas. Clique aqui para baixar gratuitamente o Boletim Didático da Epagri que ensina a identificar as PANCs e traz sugestões de consumo e receitas.
Conheça agora cinco PANCs que você pode incluir na alimentação e não sabia:
1 – ALMEIRÃO-ROXO
PARA QUE SERVE? As folhas são muito nutritivas, ricas em minerais, especialmente potássio, cálcio, fósforo, ferro e também vitaminas A, C e do complexo B (Riboflavina e Niacina). Elas também apresentam boa fonte de proteína e fibras, com teores de 18 e 30% em base seca, respectivamente.
COMO USAR? As folhas novas do almeirão-roxo são mais suaves e saborosas. Podem ser consumidas cruas e usadas principalmente em saladas mistas, cozidas e refogadas. Seu sabor acompanha bem pratos como massas e polenta, mas também são preparadas com feijão e arroz, como recheio de bolinhos, pizzas, tortas, pães e ingrediente de farofas. Recomenda-se picar bem fininho como a couve. Embora seja popularmente chamado de almeirão, trata-se de uma alface crioula e, por isso, seu amargor é mais suave em relação às variedades de almeirões comerciais mais conhecidas.
2 – AROEIRA
PARA QUE SERVE? A aroeira é uma árvore muito popular em Florianópolis e em todo o litoral de Santa Catarina e seu fruto seco pode ser usado na culinária, recebendo na França o nome de poivre rose, um tipo de pimenta doce. No Brasil seu consumo como condimento é pouco conhecido. Ela frequentemente é importada e vendida a preços exorbitantes, apesar de ser abundante na maioria das nossas cidades. A casca da árvore e as folhas são consideradas na medicina popular como medicamento para tratamento de artrite, febres, ferimentos e reumatismos. Existem relatos de usos etnofarmacológicos com ação anti-inflamatória, antiespasmódica, tônica, vulnerária (tratamento de feridas, cortes e úlceras), diurética, antileucorreica, emenagoga (aumenta fluxo menstrual), adstringente, cicatrizante, balsâmica e bactericida.
COMO USAR? Os frutos secos de sabor adocicado e aromático podem ser utilizados como condimento de ensopados, carnes, peixes e até doces como caldas, bombons e geleias, conferindo sabor, aroma e aspecto visual chamativo. Use com parcimônia como qualquer condimento e não esqueça de secar os frutos antes de utilizar.
3 – BELDROEGA
PARA QUE SERVE? É considerada uma planta nutracêutica que chama atenção por ser fonte de ácido graxo ômega 3, nutriente importante para saúde cardiovascular e fortalecimento do sistema imunológico, porém incomum em verduras folhosas. Em sua composição nutricional apresenta Fósforo, Magnésio, Zinco, Cálcio, Potássio, Cobre e Ferro, além de betacaroteno (precursor da vitamina A) e Vitaminas C, B1 e B2. O consumo de beldroega ajuda a prevenir doenças cardiovasculares e manter bons níveis de colesterol e triglicerídeos. Tem propriedades antioxidante, anti-inflamatória, laxante, diurética e depurativa. Todas as partes dessa planta vêm sendo usadas na medicina tradicional há séculos em todo o mundo, sendo de 500 a.C. seu primeiro registro na literatura na China.
COMO USAR? Todas as partes aéreas da beldroega, exceto as raízes, (folhas, caule, ramos, flores e sementes) podem ser consumidas, cruas ou cozidas em saladas, sopas, refogados, sucos, omeletes e recheio de tortas. O sabor é levemente ácido. O caule e as folhas crus são crocantes, o que as diferencia de outras folhosas. Com o cozimento conferem consistência cremosa e o sabor, embora mais suave, lembra o espinafre. As sementes podem ser transformadas em farinha ou utilizadas nas receitas de pão.
4 – CAPUCHINHA
PARA QUE SERVE? A capuchinha é rica em carotenoides, especialmente luteína, substância importante para a prevenção de doenças relacionadas à visão, como catarata e glaucoma. Além dos carotenoides, são fonte de antocianinas e flavonoides e apresentam potencial antioxidante, anti-inflamatório e hipotensivo. As flores, com cores variadas são ótimas para o paisagismo e a decoração comestível.
COMO USAR? Partes comestíveis: flores, folhas, talos, frutos e sementes. As folhas novas e as flores podem ser consumidas em forma de saladas, patês, pestos, pães, sopas, omeletes e refogados. Os talos mais finos (pecíolos) podem ser aproveitados junto com as folhas e flores talos tenros para eliminar as partes fibrosas devem ser cozidos, triturados e peneirados. O sabor se assemelha ao agrião fresco e picante. Seus botões florais e frutos podem ser preparados como alcaparra (em forma de conserva). As sementes maduras podem ser tostadas e moídas, substituindo a pimenta do reino. As flores podem ser desidratadas, embebidas em álcool ou em calda de açúcar ou, ainda, congeladas na forma de cubos de gelo e adicionadas a coquetéis.
5 – ORA-PRO-NÓBIS
PARA QUE SERVE? Seu nome vem do latim, ora pro nobis, que significa “rogai por nós”, por ser uma planta muito nutritiva. As folhas contêm biopolímeros do tipo arabinogalactanos que fortalecem o sistema imunológico e proteínas de alta digestibilidade e valor biológico com cerca de 25% até 35% de proteína que contém aminoácidos essenciais (aqueles que precisamos consumir pois nosso organismo não produz). Contêm ainda apreciáveis quantidades de vitaminas A, B e C, além de potássio, cálcio, ferro, lisina, magnésio, zinco, fósforo, fibras e substâncias mucilaginosas. As mucilagens presentes nas folhas possuem atividade medicinal, são polissacarídeos complexos e conferem consistência semelhante à clara do ovo nas receitas. Também são usadas como corante verde para massas. Os níveis de proteína, lisina, cálcio, fósforo e magnésio são mais elevados do que no repolho, alface e espinafre. Cem gramas de frutos atendem cerca de 13% das fibras totais recomendadas diariamente. Os frutos maduros contêm vitamina A e quando imaturos são fonte de vitamina C.
COMO USAR? Partes comestíveis: folhas, frutos, flores e brotos As folhas e as flores jovens sem acúleos (espinhos) podem ser consumidas de diversas formas, em saladas cruas, refogadas, cozidas, em sopas, tortas, omelete, polenta e até mesmo no arroz com feijão. Uma boa alternativa é triturar as folhas com água no liquidificador e juntar à massa do pão ou outras massas, conferindo ao produto final uma melhor composição nutricional e uma atraente cor verde. As folhas podem substituir a clara de ovo em receitas, triturando 10 folhas com ½ xícara de água. Os frutos podem ser consumidos (retirando os espinhos que são apenas externos) crus, em geleias, xaropes, sucos, compotas, mousses e licores. Podem ser fermentados e conservados com açúcar para a elaboração de bebidas. Os brotos são utilizados como aspargos.