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Epagri reúne mais de 200 pessoas em Ipuaçu para Tarde de Campo sobre leite sustentável

As gerências regionais da Epagri de Chapecó e Xanxerê promoveram no dia 4 de dezembro o 2º Dia de Campo de Pecuária de Leite Rentável e Sustentável, em Ipuaçu. A propriedade da família Rissi, que é uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) da Epagri, conseguiu em apenas três anos implementar ajustes no manejo que aumentaram sua produtividade em 120%. URTs são propriedades rurais selecionadas pela Epagri para implementação de tecnologias, que depois servirão de modelo para outras famílias.

O encontro reuniu mais de 200 pessoas, entre extensionistas, pesquisadores e produtores, que puderam percorrer diferentes estações temáticas voltadas ao fortalecimento da atividade leiteira. Entre os assuntos abordados estiveram o sistema de produção de leite à base de pasto, manejo e balanceamento nutricional, criação de terneiras e políticas públicas.

Cassio Marques de Valois, coordenador estadual do programa de pecuária da Epagri, defendeu a importância da eficiência produtiva para a produção de leite (Fotos: Helena Moraes / Epagri)

As estações abordaram temas estratégicos para garantir a sustentabilidade econômica e ambiental do sistema de produção. Esse aspecto ganha ainda mais relevância diante da atual queda no preço do litro de leite pago aos produtores. Segundo a estimativa publicada pela Epagri/Cepa, o preço pago aos produtores em novembro foi de R$2,23 por litro. A constante desvalorização do leite tem preocupado os agricultores catarinenses, uma vez que o Estado é o quarto maior produtor do país. Entretanto, a líder do projeto de pecuária da Epagri no Oeste de Santa Catarina, Seliane Pierezan, buscou tranquilizar os produtores, ao destacar que receber um valor mais alto pelo litro de leite não garante necessariamente maior renda. Para exemplificar, ela apresentou os indicadores da propriedade demonstrando que em abril de 2023, o preço pago pelo litro de leite era de R$2,99, com R$2,42 de custo operacional para manter o rebanho de 15 vacas, resultando em uma margem bruta mensal de R$2.810,00. Já em setembro de 2025, mesmo com a redução no preço para R$2,40 por litro, o custo operacional caiu significativamente para R$1,29, operando com 31 vacas, o que permitiu elevar a margem bruta mensal para R$ 14.956,00. 

Seliane destaca que um dos principais fatores para a elevação do custo operacional é o gasto com ração, o que, segundo ela, corresponde a 42% do total. Visando uma maior economia, a Epagri defende o sistema de produção à base de pastagens perenes, que, ao contrário das pastagens anuais de verão ou inverno, não precisam ser semeadas todos os anos. A escolha das espécies forrageiras deve considerar critérios como adaptação às condições climáticas de cada região, potencial produtivo, resistência à pragas e doenças, valor nutricional e capacidade de cobertura do solo. Desse modo, o manejo adequado das pastagens, aliado ao uso estratégico de ração e silagem, pode reduzir significativamente os custos.

Sucessão familiar que fortalece o campo 

Em três anos a família Rissi elevou a produção anual de leite de 8.174 para 18.056 litros por hectare . No entanto, o caminho percorrido até essa conquista foi repleto de desafios e medos. Sabrina é filha de seu José e dona Lenira. Formada em Administração, tomou a difícil decisão de deixar o emprego na cidade para se dedicar à propriedade da família. A extensionista da Epagri, Sonia Toigo, que acompanhou de perto esse processo, acredita que a escolha da jovem reflete a coragem da mãe, dona Lenira, que iniciou a atividade leiteira com poucas vacas em alternativa à suinocultura. E foi preciso coragem para não desistir, quando no começo de 2022, por causa de um manejo equivocado, eles precisam descartar seis animais. 

Percebendo o desejo da jovem em se desenvolver, a extensionista social Elvina Costacurta, que atuava na Epagri de Ipuaçu, a convidou para participar do curso de jovens rurais. Lá, além dos aprendizados, ela também encontrou um amor, o vizinho Alan Bisolo, com quem se casou anos depois. No mesmo ano, o irmão de Sabrina, Heric, formado em Técnico em  Agropecuária, também retornou para a casa dos pais, disposto a aplicar seus conhecimentos e contribuir para o fortalecimento da atividade. Sonia recorda que, em novembro de 2022, ela visitou a família acompanhada dos colegas Roberson Grassi e Cianarita Caron Figueiró, para conversar com a família e planejar as ações de reestruturação. “Naquele dia não encontramos apenas um casal disposto a ajudar os filhos, mas uma família inteira mobilizada para tornar possível o retorno da juventude para o campo”, destaca.

A família Rissi mostra que união e disciplina são a base para o sucesso e a continuidade no campo


Eles também encontraram uma propriedade de 15 hectares em processo de estruturação, que precisava de planejamento e investimentos. Tudo isso, demandava, além de trabalho, recursos financeiros que nem sempre estão disponíveis. Nesse sentido, Sabrina destaca o papel das políticas públicas disponibilizadas pela Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Sape), por meio da Epagri. Na propriedade eles tiveram acesso ao incentivo do Programa Terra Boa, com o kit forrageiras, as sementes de milho e o calcário para a correção do solo. Além disso, eles também foram beneficiados pelo Programa Financia Leite SC e pelos recursos destinados à implementação dos projetos de vida desenvolvidos no curso de jovens.

A família continuou investindo em capacitação para alcançar melhores resultados. Heric também fez o curso de jovens e a mãe, Lenira, é egressa do curso Flor-e-Ser. Hoje, Sabrina vive na propriedade vizinha com Alan, mas continua colaborando com a família. Lenira se emociona ao recordar o caminho percorrido: “não foi fácil, mas com muito trabalho e com o apoio da Epagri nós pudemos nos estruturar e repassar um pouco do que aprendemos”. Heric também celebra as conquistas e afirma que “é muito gratificante ver que todo esse esforço deu resultado”. Para a extensionista Sonia, “a extensão rural não transforma ninguém sozinha; o que transforma é a iniciativa, a coragem e a responsabilidade de famílias como essa”, conclui.

Por: Karin Helena Antunes de Moraes, jornalista bolsista Epagri/Fapesc

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