O mês de setembro é aguardado pelos produtores catarinenses de arroz irrigado para iniciar o plantio da nova safra, mas também é o período em que as pragas costumam aparecer, atraídas pela oferta de alimento em forma de sementes. Uma das pragas que tem preocupado os rizicultores é o caramujo, que chega na lavoura através das valas depois que as quadras são inundadas. Mas a partir deste ano, os produtores têm um forte aliado: a armadilha Schneckel, desenvolvida pelo entomologista Eduardo Hickel, da Estação Experimental de Itajaí (EEI), que está em fase de difusão através dos extensionistas da Epagri.
A armadilha foi desenvolvida pelo pesquisador em 2024, após três anos de testes. Até então, só haviam armadilhas submersas para capturar os moluscos, mas as três espécies identificadas por Eduardo (caramujo-grande, caramujo-chato e caramujo-pequeno) precisam subir à superfície para respirar e acabavam escapando das armadilhas. O desafio era bolar um mecanismo que impedisse a fuga dos animais.

Então, ele desenvolveu uma armadilha com um cano de PVC com abertura coberta com tela do tipo sombrite, que permite a entrada de água no momento da instalação. Os caramujos entram na armadilha, atraídos por uma isca alimentar (1g de ração) através de duas aberturas no cano; os funis de tela plástica fixadas na parte interna impedem a fuga. A armadilha deve ser instalada numa profundidade mínima de 30mm de lâmina d’água, com estacas ao redor do cano para impedir que outros animais derrubem as armadilhas.
A tecnologia foi apresentada aos extensionistas em julho, durante as reuniões do Projeto Arroz da Epagri, e pode se tornar uma importante ferramenta para identificar a incidência dos animais, que têm potencial para causar perdas consideráveis na lavoura e até exigir um novo plantio. Principalmente porque as espécies não podem ser controladas com agrotóxico, mas exigem um manejo integrado, que passa pelo preparo antecipado do solo seco, limpeza de valas e canais, armações com telas na entrada de água das quadras, manutenção de lâmina d’ água e eventual drenagem em áreas infestadas.

Outros meios de controle são a colocação de folhas de mamoeiro, mandioca ou bananeira para coleta os caramujos e introdução de predadores, como o gavião-caramujeiro (requer instalação de poleiros) e marrecos-de-pequim, na proporção de 30 a 50 por hectare. Também é preciso fazer o manejo da lavoura durante a entressafra e, eventualmente, fazer a alternância de sistema de cultivo e adoção de semeadura em solo seco.
Monitoramento no campo experimental é feito três vezes por semana
Apesar da tecnologia já estar em fase de difusão, o trabalho de Eduardo não terminou. Na segunda semana de setembro ele iniciou um novo experimento na EEI para monitorar o comportamento dos caramujos durante toda a safra, que encerra em março, com a colheita. “Não se trata de um monitoramento populacional, pois os caramujos que ali estão não crescem rapidamente em número. O caramujo-grande, que é bastante voraz, vive até três anos, enquanto que o achatado vive um ano”, explicou.

Para fazer este acompanhamento, Eduardo instalou sete armadilhas numa área de 15 hectares, quatro nas valas e três em lavouras. A leitura da coleta acontece três vezes por semana. Paralelamente, ele está testando em laboratório combinações e quantidades diferentes de alimentos (ração de peixe, de coelho, etc) para tentar evitar que os caramujos ataquem as sementes. Ao final da safra, o estudo vai dar origem a uma recomendação para aprimorar o controle desses animais que têm tirado o sono dos rizicultores.
O pesquisador esclarece que, no caso das lavouras comerciais, a recomendação para os produtores é fazer o monitoramento somente até novembro, quando a planta ainda é jovem e está mais suscetível ao ataque dessas pragas. “No sistema de plantio de arroz irrigado não há outro alimento disponível para estes animais, a não ser a própria planta, por isso, para fazer um controle mais eficiente, é essencial fazer o manejo integrado cultural, mecânico e biológico”.
Para saber mais, acesse aqui gratuitamente o Boletim Técnico sobre caramujos e lesmas que ocorrem nas lavouras de arroz irrigado em Santa Catarina, editado pela Epagri.
Por Renata Rosa, jornalista bolsista da Epagri/Fapesc
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