Reinventar formas de produzir alimentos artesanais utilizando tecnologias inovadoras ou apostar em novos produtos aproveitando a demanda crescente por alimentação saudável foram destaques na vitrine de negócios da ExpoSuper 2025, realizado em Balneário Camboriú de 16 a 18 de junho. Agroindústrias familiares abertas há poucos anos estão conquistando mercado graças ao apoio da Epagri para inovar no campo, em setores inéditos no Estado.
Um bom exemplo é a Booch, uma empresa de kombucha, a bebida probiótica queridinha das nutricionistas, comandada pelos irmãos Guilherme e Valéria Peters, de Blumenau. Em 2021, a bebida foi regulamentada no Brasil e a fábrica, aberta em 2017, foi transferida para o sítio da família, em Rodeio, para aproveitar a água cristalina que brota de quatro nascentes. A água é essencial no processo de fabricação da kombucha, que é fermentada, rica em vitaminas, enzimas e minerais, essencial para o equilíbrio da flora intestinal.

Guilherme conta que a ideia de investir na kombucha surgiu em uma viagem que fez aos Estados Unidos em 2015, quando o Brasil vivia a febre das cervejarias artesanais. Mas a demanda pela bebida por aqui ainda era pequena e a primeira empresa acabou fechando. Anos depois, vendo que a kombucha tinha se popularizado, ele apostou numa nova fábrica que produz a bebida naturalmente efervescente, já pensando no potencial do turismo rural.
“Minha mãe fez cursos de jardim sensorial para enriquecer o ambiente, onde temos uma horta orgânica. Nossa ideia é que o sítio seja autossustentável e, para isso, já instalamos placas de energia solar”, revela. Valéria entrou para a empresa durante a pandemia, quando o hostel da família ficou inviável. Hoje a empresa produz 2.500 litros por mês nos sabores cramberry com limão, uva roxa e branca e gengibre, além de um vinagre e espumantes.
Terceira geração da família Schaade inova na piscicultura com pratos prontos
Quando Norton Gabriel Schaade nasceu, em 1990, a família produzia carpas e bagres nas lagoas abertas pelo avô Nolberto que era, até então, rizicultor. Em 1996, a tilápia chegou com força à Agrolândia, fazendo com que a família, assim como outros produtores, investisse no peixe que teve ótima aceitação no mercado. A necessidade de uma estrutura para abrigar reuniões da associação fez com que abrissem, em 2000, um restaurante cujo menu se tornaria a base do catálogo da Schaadinha Pescados, criada por Norton em 2019.
“Os piscicultores tinham um sonho de ter uma indústria que beneficiasse a produção, aí eu larguei o emprego em uma metalurgia e idealizei a empresa, aproveitando as receitas de minha mãe Sônia”, conta o empresário, engenheiro de produção. E ele não quer parar por aí. Para agregar valor ao produto, Norton está investindo em comida pronta. “Eu quero parar de vender commodity (peixe in natura) e investir no produto temperado e empanado, um outro nicho de mercado”, revela. Hoje, o perfil consumidor é o foodservice (restaurantes, cozinhas industriais, peixarias e mercado). São 40 itens no catálogo, entre filés e petiscos.

A geleia de figo da Bachmann está entre as cinco melhores do Brasil
As receitas de doces da avó de Marlise Bachmann, 58 anos, sempre complementaram a renda da família de Rio do Sul em momentos decisivos. Ela começou vendendo para amigos e depois no Mercado Público, onde a fama cresceu a ponto de Marlise acreditar que poderia estar ali a semente de um negócio próprio. Ainda mais depois de fazer o curso de empreendedorismo feminino no campo da Epagri, o Flor-e-Ser.
“A Epagri está junto com a gente desde o início. Tanto nos cursos, como na orientação da extensionista, que nos ajudou a legalizar a atividade”, conta Marlise. Outro empurrão foi a necessidade do filho Gustavo, 30, formado em agronomia, de trabalhar na área após vencer a batalha contra a leucemia. “Eu era representante comercial e abandonei tudo para investir na agroindústria, graças a Deus, tá indo de vento em popa”, comemora.
Este ano, a Bachmann recebeu o Prêmio CNA Brasil, como uma das cinco melhores geleias do país. O portfólio, que começou com seis sabores de frutas produzidas por produtores locais, tem hoje 18 variedades e três opções salgadas (relish, caponata e tomate seco). E para atender a um público mais exigente, Marlise trocou o adoçante dos sabores morango e laranja por frutas naturalmente mais doces, como mamão e manga.

Em apenas três anos de atividade, as geleias Bachmann estão nos empórios, confeitarias, café e hotéis, assim como hamburguerias e bruscheterias não só em Santa Catarina, como em toda a região Sul e estados do sudeste e nordeste, graças às vendas diretas nas redes sociais.
Tradição centenária na fabricação de cachaça ganha sofisticação no Alambique Rein
Há exatos 100 anos, a família Rein produz cachaça em Luiz Alves, contudo o tataraneto Orécio não queria continuar no mesmo sistema de produção, mas investir em inovação e melhorar a qualidade da bebida símbolo do Brasil. Aos 20 anos, ele vendeu sua parte no negócio da família e abriu o Alambique Rein com a esposa. Quinze anos depois, o portfólio possui 27 rótulos, entre cachaça clássica, envelhecidas em barril de carvalho, licores, bitter e gin.
“No começo, os imigrantes alemães que produziam cachaça, cultivavam cana-de-açúcar e produziam açúcar, que era exportado através do porto de Itajaí para a Europa. Minha família continuou fornecendo cachaça, açúcar e melado para a indústria. Mas eu queria vender direto para as lojas, atingir outros públicos, por isso feiras como esta são importantes. O consumidor final prova as bebidas e influencia grandes lojas de varejo”, explica.
Para atingir um público classe A, Orécio investiu na cachaça envelhecida 12 anos em barris de carvalho, jequitibá e amburana. Para um público jovem e feminino, criou licores perfumados com canela, jambu e banana, mel e melado. E para agradar paladares apurados, o gin e bitter, que leva 14 ervas na receita. Atualmente, o público consumidor está na região Sul, Chile e França. Por ano, a empresa produz 60 mil litros.
O Alambique Rein é uma das 10 empresas abrangidas pelo Selo Arte e pela Indicação Geográfica (IG), conquistada em agosto de 2024. A particularidade que dá sabor único ao produto é a utilização de leveduras naturais, que proporciona uma fermentação de baixa velocidade e produz álcoois de alta qualidade.

Popularização do consumo de cogumelos abriu nicho de mercado no Vale do Itajaí
Quando Gustavo Silveira, 42, visitou a Europa, em 2012, ficou impressionado com a venda de cogumelos a granel nos mercados e voltou com a certeza que queria investir no produto. Mas o terreno que tinha, em Gaspar, era acidentado e o clima era pouco propício. Então, através de uma produtora, soube que, em vez de cultivar em madeira, que leva um ano e meio para colher, era possível produzir em um substrato, reduzindo o tempo para quatro meses. Hoje, a Vale Europeu é a única do Estado a produzir shitake, paris, shimeji e portobello. E o negócio está indo tão bem que ele já planeja produzir hambúrguer vegano e risoto.
Já em Massaranduba, é a união de produtores de banana que está transformando a produção. A Cooperban, fundada por 53 famílias há 15 anos, estava na feira para divulgar guloseimas que diminuem o desperdício e asseguram a renda de produtores, graças ao aproveitamento da fruta quando fica inadequada para o consumo in natura.
“Quando a fruta está muito madura, recolhemos o produto dos mercados e transformamos em balas, banana passa e barrinhas, cuja versão sem açúcar são próprias para academias”, afirma a engenheira-agrônoma, Juniele Pivetta Sureck, 44. Ela conta que a cooperativa também é parceira do projeto Mesa Brasil, do Sesc, e fornece a fruta para a merenda escolar de escolas do Oeste e do Paraná. A produção mensal chega a 25 toneladas.
Serviço
Alambique Rein: Rua Fratelli Signorelli, 411 – Ribeirão da Onça – Luiz Alves (para visita guiada). Fone: (47) 3377-0777 / @reincachaça / https://www.reincachaca.com.br
Bachmann Artesanal: contato@bachmannartesanal.com / @bachmannartesanal
Booch (kombucha): www.booch.com.br / @letsbooch
Cogumelos Vale Europeu: (47) 2204-1451 / 99143-1616
Cooperbam: cooperbamsc@gmail.com / Fone: (47) 3379-8130
Schaadinha Pescados: (47) 99922-2747 / schaadinha@gmail.com
Por Renata Rosa, jornalista bolsista da Epagri/Fapesc
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