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Santa Catarina tem a banana mais doce do Brasil

Ela sofreu com mais de um século de desvalorização. O sabor e a doçura inigualáveis eram ofuscados pela aparência pouco convencional. Sua capacidade de resistência era desprezada. Apesar de tudo, ela persistiu. Em 2018, a história reconheceu seus valores e hoje finalmente a Banana Corupá pode comemorar: é, oficialmente, a banana mais doce do Brasil.

A confirmação do título veio pela Indicação Geográfica (IG) da Banana da Região de Corupá, concedida oficialmente pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) em 28 de agosto de 2018. A IG é usada para identificar a origem de produtos ou serviços, quando o local tenha se tornado conhecido ou quando determinada característica ou qualidade se devam à sua origem. A Banana Corupá é a primeira fruta tropical a receber uma IG de Denominação de Origem no Brasil.

Frutos produzidos em Corupá apresentam menor acidez e maior teor de amido

Particularidades

A IG veio comprovar as particularidades da fruta. A Banana da Região de Corupá se destaca por seu sabor e sua extrema doçura, reflexos das características ambientais da região onde é produzida. A amplitude térmica diária, a baixa temperatura média anual, o relevo como modulador da exposição solar e outras questões que antes eram consideradas problemas por influenciar na coloração da casca, acabaram se tornando o diferencial do produto.

A banana precisa de uma temperatura média anual de 28°C para se desenvolver plenamente, o que torna as regiões mais próximas à linha do Equador, de clima tropical, ideais para o seu cultivo. Na região de Corupá, de clima subtropical, o desenvolvimento da fruta é bem diferente.

No Equador, um cacho fica pronto para colheita em três meses, ou até 105 dias após a floração, mesmo prazo do Nordeste brasileiro. Em São Paulo, pode levar de 150 a 180 dias. No caso da região de Corupá, os produtores podem ter que esperar até 240 dias para colher o cacho após a floração. Ainda como reflexo do clima e do relevo, essa mesma touceira de banana poderá demorar até 14 meses para ter um novo cacho para colheita.

Os frutos produzidos em Corupá apresentam menor acidez e maior percentagem de amido acumulado, que será convertido em frutose no amadurecimento. Esse conjunto resulta numa acentuação do sabor percebido pelas papilas gustativas, refletido num índice denominado relação açúcar-acidez, conforme o descrito no Dossiê Técnico-Científico elaborado para fundamentar o pedido da IG. A publicação revela que “os frutos sofrem grandes interferências do ambiente em que são produzidos, possivelmente devido às temperaturas baixas e aos índices de radiação solar durante o inverno e início da primavera”.

As baixas temperaturas do inverno e da primavera também influenciam no manejo da planta. O frio interrompe o ciclo de patógenos das folhas durante o ano. Assim, o número de aplicações de produtos via pulverização nos bananais fica muito reduzido. Nas regiões tropicais, a quantidade de aplicações varia entre 25 e 50 por ano. Já no Litoral Norte de Santa Catarina, esse número fica entre seis e sete. Os cachos colhidos, principalmente durante o inverno, também resistem por mais tempo nas prateleiras dos supermercados, já que sua casca pode ser até 25% mais espessa. Outro diferencial ambiental da Banana Corupá é a produção em meio à Mata Atlântica.

A Banana Corupá é produzida na região Norte de Santa Catarina, nas áreas abaixo de 600 metros de altitude do município que lhe deu o nome, além de Schroeder, Jaraguá do Sul e São Bento do Sul. A IG abrange uma região de 857,3km². A fruta faz parte do grupo Cavendish, também conhecido como banana d’água, nanica ou caturra.

Banana Corupá é produzida no norte do Estado, em áreas com altitude inferior a 600 metros

Olhar estrangeiro

Esse tipo de banana já se destaca no mercado por seu sabor extremamente doce, mas na região isso custou a entrar na percepção dos produtores. Foi preciso ocorrer a visita de um estrangeiro para destacar esse valor.

Eliane Cristina Muller, secretária executiva da Associação de Bananicultores de Corupá (Asbanco), conta que, em 2005, durante um evento promovido pela Epagri em Joinville, um técnico da Empresa levou um pesquisador da Costa Rica até Corupá para visitar um bananal. Foi ele que, ao provar a fruta, ficou impressionado com o sabor e alertou: o posicionamento dela no mercado teria que se dar pela extrema doçura, e não pela aparência, aspecto no qual ela jamais conseguiria concorrer com as similares produzidas no Nordeste do Brasil ou no Equador.

A partir daí a Asbanco começou uma série de parcerias e trabalhos técnicos para alcançar a IG da Banana Corupá e certificá-la como a mais doce do Brasil, com apoio do Sebrae e da Epagri. Nesse processo, a extensão rural foi fundamental para sensibilizar os agricultores para o potencial da fruta, as tecnologias de produção mais limpa e a infraestrutura necessária para garantir sua qualidade.

“Começamos a sugerir aos bananicultores melhorias nas casas de embalagens, por exemplo, para evitar danos ao produto e destacar seu sabor”, relata George Livramento, coordenador de Assistência Técnica e Extensão Rural da Epagri para as regiões de Joinville, Itajaí e Blumenau que, por dez anos, foi extensionista da Empresa em Corupá.

Casas de embalagem foram adaptadas para evitar danos ao produto e destacar seu sabor

Também são necessários cuidados especiais no transporte, já que a produção se dá em regiões acidentadas e o deslocamento da carga pode comprometer a qualidade visual da fruta. “Não deixamos os agricultores esquecerem que pequenas mudanças fazem um conjunto melhor”, explica Livramento. Usar uma carreta trucada para transporte dos cachos, seguir o monitoramento da Sigatoka, usar produtos registrados e adubar conforme recomendação são algumas das modificações sugeridas.

O extensionista conta que foi preciso um longo trabalho de valorização junto aos produtores, que muitas vezes não reconheciam o valor da doçura da fruta. Foram realizados eventos e outras atividades de sensibilização do bananicultor, que por anos viu seu produto rebaixado pela aparência diferenciada, mais escura que as frutas similares.

Sustentabilidade

A sustentabilidade da Banana Corupá também foi destacada nesse trabalho da extensão, que divulgou e reforça continuamente a importância da adoção do sistema de manejo da Sigatoka desenvolvido pela Estação Experimental da Epagri em Itajaí (EEI). A Sigatoka é uma das principais doenças da bananeira e o manejo adequado reduz sensivelmente a aplicação de agrotóxicos para combater esse mal. “É importante que o consumidor entenda que, quando ele compra a banana da região de Corupá, não está comprando somente a doçura, mas sim uma série de tecnologias de manejo que permitem, inclusive, a produção praticamente sem herbicida”, descreve o extensionista.

Depois da conquista da IG, o próximo desafio da Asbanco, da Epagri e de outras entidades envolvidas no processo de certificação, é fazer o produto chegar ao consumidor, de modo que o valor agregado fique com o agricultor. “Quando ao agricultor quiser participar da IG, verá a colheita de um trabalho de anos da Epagri e das associações, em especial da Asbanco”, adianta Livramento. O primeiro passo é criar o Conselho Gestor da IG, que define como as regras do INPI serão aplicadas aos cultivos que desejarem utilizar a marca.

Eliane Muller, secretária executiva da Asbanco, quer valorizar o produto no mercado

A Secretária Executiva da Asbanco mostra que a entidade já está pronta para as tarefas que se apresentam a partir da concessão da IG. Além de treinar os agricultores para seguirem o caderno de normas da certificação, também será preciso encontrar formas de desenvolver um comércio justo e eficiente, de modo a valorizar economicamente o trabalho do produtor. Para tanto, Elaine sonha com embalagens diferenciadas, apropriadas para o fim de ressaltar os diferenciais do produto. “Eu quero a Banana Corupá ao lado do tomate grape e da physalis nas prateleiras dos supermercados”, conta ela, na expectativa de ver a fruta da região ocupando posição de destaque na oferta ao consumidor.

A IG da Banana da Região de Corupá vai, sem dúvida, beneficiar os produtores rurais, mas a secretária executiva da Asbanco sabe que o impacto poderá ser ainda maior. O que se espera é que a banana mais doce do Brasil colabore no desenvolvimento do turismo e da gastronomia locais, expandindo os ganhos econômicos e sociais para além dos limites rurais dos municípios abrangidos pela IG.

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