De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a atividade do pescador está entre as mais perigosas do mundo. Em Santa Catarina, a pesca artesanal é realizada predominantemente com embarcações de pequeno e médio porte, que são as mais frágeis. A atividade fica ainda mais arriscada quando os pescadores não seguem as normas marítimas, usando embarcações sem equipamentos de segurança, ou são pegos de surpresa por mudanças meteorológicas.
Para reduzir esses riscos, em 2017 a Epagri executou um projeto-piloto beneficiando 27 pescadores artesanais de Balneário Barra do Sul e 14 em Bombinhas e Porto Belo. Inicialmente, os participantes que não tinham habilitação para conduzir barcos foram orientados a obtê-la. Na sequência, dois cursos capacitaram os pescadores em navegação, segurança no mar e uso de equipamentos eletrônicos. E para equipar as embarcações, a Epagri elaborou um projeto de apoio para obter recurso financeiro do Programa SC Rural.
“O projeto, além de apoiar a aquisição dos itens de segurança e navegação, traz uma abordagem que recicla o conhecimento dos pescadores”, destaca José Eduardo Calcinoni, extensionista da Epagri em Balneário Barra do Sul. A iniciativa conta com apoio da Marinha do Brasil, do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), de colônias de pescadores e secretarias municipais.
Barcos equipados
No total, foram investidos R$299 mil em equipamentos como bússola invertida, boia salva-vidas, rádio VHF náutico, antena VHF, buzina marítima, GPS com sonda e carta náutica, colete salva-vidas, refletor de radar, luzes de navegação, bandeira nacional, artefatos pirotécnicos, boia salva-vidas e extintor de incêndio. Os participantes entraram com 20% desse valor e o restante foi apoiado pelo SC Rural.
“O principal objetivo do projeto foi alcançado, que foi a orientação para a regularização e a sensibilização para a importância dos equipamentos de segurança a bordo das embarcações. Muitos pescadores nunca haviam sido orientados e capacitados em segurança no mar; alguns sequer conheciam a obrigatoriedade desses equipamentos”, relata Hugo Mazon, extensionista da Epagri de Bombinhas.
Economicamente, os beneficiados têm maior eficiência na pescaria devido ao deslocamento com visão do fundo do mar com uso de sonda. Em aspectos ambientais, tende a ocorrer uma redução no número de arrastos, minimizando os impactos no fundo do mar. A meta da Epagri, agora, é estender o projeto para um número maior de pescadores.
Um dos beneficiados é Jailson de Souza, que tem 46 anos e há 31 vive da pesca em mar aberto. Para pescar camarão sete barbas, ele sai de barco todos os dias por volta das 4 da manhã, aproveitando a maré enchente, e retorna perto do meio-dia. “Aprendi a atividade com meu pai, que aprendeu com meu avô. É uma tradição de passa geração para geração”, conta.
O pescador de Balneário Barra do Sul conhece bem os perigos de alto-mar – em 2012, quase perdeu a vida em um acidente. “O barco equipado facilitou a navegação e agora tenho mais segurança a bordo. Meu GPS era bem simples e o novo tem tela maior, colorida, com sonda de profundidade e carta náutica. Se chegar perto de uma ilha, por exemplo, a tela muda de cor, então mesmo com neblina eu tenho mais segurança para navegar”, conta.