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Epagri inicia trabalho para buscar IG do mel de melato de bracatinga

  • Apicultura
O mel de melato é um produto único com características determinadas pelas condições geográficas

No Planalto Sul e no Planalto Norte de Santa Catarina, a associação entre a bracatinga, um inseto chamado cochonilha e as abelhas resulta num produto único: o mel de melato. Ele é fabricado pelas abelhas a partir do líquido açucarado que a cochonilha produz ao se alimentar da seiva da bracatinga. Ainda pouco conhecido fora dessa região, o mel de melato é escuro, levemente menos adocicado que o de origem floral e possui maior quantidade de minerais, além de propriedades medicinais.

Mas a pouca fama desse produto tão singular está com os dias contados. A Epagri, em parceria com o Sebrae, a Federação das Associações de Apicultores de Santa Catarina (Faasc) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), está iniciando o trabalho para buscar a Indicação Geográfica (IG) do mel de melato de bracatinga.

A primeira reunião de sensibilização da cadeia produtiva foi realizada em junho, em Lages, quando produtores e entidades discutiram a construção conjunta de uma IG para o mel de melato. Os participantes conheceram as etapas do trabalho, que implicam, por exemplo, no reconhecimento da notoriedade do produto no território e na realização de estudos técnico-científicos.

A Epagri e a UFSC serão responsáveis por esses estudos, que vão subsidiar o dossiê de submissão do pedido para a IG. “Estamos fazendo o reconhecimento das áreas onde ocorre o fenômeno de associação entre a cochonilha e a bracatinga para fazer o recorte espacial da área de estudos. A partir daí serão realizados estudos agroclimáticos, de solos e geologia, uso e cobertura da terra, fisiografia e toda a caracterização física e ambiental do território que determina a qualidade e tipicidade do produto”, explica Everton Vieira, geógrafo do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de SC (Ciram/Epagri), responsável pela equipe técnica que fará os estudos.

Secreção produzida pela cochonilha no tronco da bracatinga serve de matéria-prima para o mel de melato

Quando estiver pronto, o dossiê será entregue ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), instituição que concede o registro da IG. O pedido do registro é feito por uma instituição representativa dos produtores, que fica responsável pela gestão da Indicação Geográfica e pelas normas de uso da identidade visual.

Everton explica que a IG traz vantagens como aumento da relação de confiança entre produtores e consumidores, desenvolvimento do território, valorização da cultura regional e do saber-fazer, agregação de valor ao produto, abertura de novos mercados e preservação do meio ambiente. “A produção de mel de melato pode representar uma estratégia importante de preservação e uso sustentável das matas de bracatingais, conciliando geração de renda com a conservação ambiental. Além disso, a bracatinga pode ser explorada como recurso madeireiro, haja vista seu crescimento rápido e ciclo de vida curto”, acrescenta.

Fenômeno da natureza

O mel de melato de bracatinga é um produto único cujas características são determinadas pela condição geográfica. “Não existe outro produto igual no mundo, e isso, por si só, justifica o pedido de uma Indicação Geográfica, embasada na notoriedade e tipicidade de um produto vinculado a um território”, diz Everton. Em 2017, esse mel foi reconhecido como o melhor do mundo no 45º Congresso Internacional de Apicultura, em Istambul, na Turquia.

Estudos preliminares indicam que a área de produção do mel de melato abrange cerca de um terço do território catarinense. Ela se estende do Planalto Sul ao Planalto Norte, seguindo por uma faixa central do Estado em regiões com altitudes acima de 700 metros. Há pequenas áreas de ocorrência no Rio Grande do Sul e no Paraná, mas aproximadamente 90% da produção está em Santa Catarina.

Ainda não se sabe quantos dos 6,1 mil apicultores catarinenses produzem o mel de melato. “Os estudos técnicos realizados pelos pesquisadores e a atualização do cadastro apícola, que está a cargo das equipes de extensão rural, vão nos dar uma noção de quantos desses apicultores produzem esse mel”, diz Everton.

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