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Epagri capacita jovens do Alto Vale do Itajaí em agricultura conservacionista e regenerativa

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Características específicas do Alto Vale do Itajaí, como relevo acidentado e sujeição a eventos meteorológicos extremos, colocam a necessidade de conservação do solo em evidência para garantir a sustentabilidade das atividades agrícolas. Neste cenário, a agricultura conservacionista e regenerativa ganha cada vez mais relevância na região. Foi com esse foco que a Epagri formou 23 produtores no curso Jovens Agricultores. A formatura aconteceu no dia 21 de outubro, no Centro de Treinamento da Epagri da Epagri em Agronômica (Cetrag). 

Vinte e três formandos pretendem aplicar técnicas sustentáveis nas suas propriedades (Foto: Divulgação / Epagri)

Nos oito encontros do curso os jovens aprenderam técnicas de ponta em sustentabilidade ambiental, como adubação verde e pecuária conservacionista. Também foram realizadas  visitas técnicas à propriedades de outros municípios e Dia de Campo com a participação dos familiares. Ao final do curso, eles apresentaram planos de negócio nas áreas de pecuária, olericultura, silagem, apicultura e grãos. Os jovens atuam em propriedades rurais nos municípios de Agronômica, Agrolândia, Lontras, Dona Emma, Presidente Getúlio, Vitor Meirelles, Vidal Ramos, Rio do Campo e Ibirama. 

A cerimônia de formatura teve a presença do diretor de cooperativismo e desenvolvimento rural da Secretaria de Agricultura e Pecuária de Santa Catarina, Leo Teobaldo Kroth, o prefeito municipal de Agronômica, Volnei Rodrigues e o secretário de agricultura do município, Volnei Schilikmann. Na mesa das autoridades, a formanda Alexia Biancate Leite representou os jovens. A Epagri foi representada pelo seu gerente regional em Rio do Sul, Almir Krûger e pela gestora do Centro de Treinamento, Juliane Garcia Knapik Justen. 

Irmãos pretendem diversificar produção com hortaliças em cultivo abrigado

Enquanto muitas propriedades rurais se preocupam com a questão da sucessão familiar por causa da evasão de jovens para o meio urbano, na família Rech, de Vidal Ramos, isso nunca foi problema. Natália, 21 anos, sempre quis trabalhar na roça, assim como o irmão Diogo, 23. Ambos fizeram o curso Jovens Agricultores no Cetrag, Diogo em 2024 e Natália este ano, e já começaram a testar no sítio técnicas para recuperar o solo.

“Essas técnicas regenerativas levam anos para apresentar resultados porque é preciso descompactar o solo e fazer adubação verde para produzir matéria orgânica, então reservamos meio hectare da propriedade para começar logo a colocar em prática esses conhecimentos”, relata Natália. 

Natália vai investir no plantio de hortaliças em cultivo abrigado (Foto: Arquivo pessoal)

A certeza de que a agricultura regenerativa traz resultados positivos pode ser comprovada em visitas técnicas, em municípios com condições climáticas e geológicas distintas. “Fomos à Chapecó, que é plano, e em Angelina, que tem montanha como aqui, e vimos que é possível fazer o plantio direto de vegetais com excelente produtividade”, conta.

Diogo fez um plano de negócio voltado para a irrigação no plantio de repolho e o projeto de Natália é construir um abrigo para plantar hortaliças, uma alternativa ao plantio de fumo dos pais. “O fumo é uma cultura que castiga muito o produtor, a mão de obra é pesada e difícil. O curso foi bom para motivar a gente a encontrar outras formas de produzir no campo sem desgastar a natureza”, acredita.

Mais conforto às vacas leiteiras no pasto

A relação de Giuliano Darolt Fistarol, 27, de Vitor Meirelles, com a Epagri, iniciou em 2022, quando ele começou a participar da Escola do Leite, um curso de bovinocultura montado no Cetrag. Nesta época, o jovem continuava a trabalhar no sítio dos pais, que plantavam fumo e milho e criavam gado. Contudo, ele seguia com os planos de fazer faculdade após a conclusão do ensino médio. Mas, ao conhecer as técnicas desenvolvidas pela Epagri sobre pastagem e semeadura de inverno, ele mudou de ideia. E convenceu os pais a mudar o foco da propriedade.

“Em 2023, foi a última vez que a gente plantou tabaco e passamos a focar na bovinocultura de leite. A Epagri mostrou que é possível, mesmo numa propriedade como a nossa, que não é muito grande, produzir leite com qualidade. E não só leite. A Epagri também mostrou que é possível produzir milho utilizando menos produtos químicos, barateando a produção e produzindo com qualidade e quantidade. Com técnicas de adubação verde e cobertura de solo e vários outros manejos integrados”, enumerou.

Giuliano pretende garantir o conforto térmico do gado com plantio de árvores (Foto: Arquivo pessoal)

Ele conta que quando soube que o curso Jovens Agricultores teria foco na agricultura regenerativa, logo procurou a coordenadora, a engenheira-agrônoma e extensionista Iara Zimmerman, para garantir sua vaga. “O que mais me interessou foi a conservação do solo, as plantas de cobertura, adubação verde, e tudo que envolve esse processo, o processo químico, o processo físico para melhorar a proteção e a fertilidade do solo, toda a parte de ciclagem de nutrientes, a troca gasosa, e, claro, ter a oportunidade de conversar com vários técnicos da Epagri, de diversas partes do Estado”, descreve.

Giuliano conta que seu plano de negócio, contudo, é dar mais conforto térmico para os animais. Para isso, ele pretende implantar nas áreas de pastagem perene uma linha de árvores no sistema silvipastoril para produzir sombra. Junto às árvores, ele também vai implantar cochos de água para hidratar os animais e oferecer pastagem de qualidade para aumentar a produção leiteira. 

“Outra coisa que pretendo introduzir na sala de ordenha, mais para frente, é um corredor de concreto para conduzir as vacas até os piquetes, onde elas pastam. Isso diminui a incidência da bactéria que provoca a mastite, que aparece em ambientes onde tem muita lama e muita sujeira”, explica. A ideia surgiu na viagem técnica feita ao município de Presidente Nereu, na propriedade de Daniel Linhares, extensionista rural da Epagri.

Planta de cobertura faz a diferença em áreas de declive

O produtor de fumo e silagem, Vitor Nietsche, 24, de Ibirama, até tentou trabalhar na cidade, em 2017, quando saiu do meio rural para terminar o ensino médio e fazer um curso de manutenção automotiva. Ele trabalhou em uma oficina até 2022 e chegou a montar a própria garagem para consertar os carros, mas acabou desistindo e voltando para o campo. Aí o problema foi trabalhar na plantação do pai, que não aceitava implementar técnicas novas, o que provocou a divisão das roças para cada um fazer do seu jeito. 

“Nós temos uma roça na beira da estrada mais larga do que comprida, porém os carreiros eram atravessados, era o único jeito da água sair, mas saia junto o barro porque a terra é solta. Aí eu disse para o meu pai para botar a braquiária [uma planta de cobertura] na vala e mudar os carreiros e ele disse que não. Fui conversar com minha mãe e ela perguntou se eu refazia tudo se desse errado. Eu disse que sim, fiz a roça de comprido, com receio se a água iria sair mesmo, e com a braquiária dentro e com chuva de 80mm, a água infiltra na terra, foi incrível”, relata.

Vitor já teve bons resultados com planta de cobertura para evitar erosão (Foto: Arquivo pessoal)

Vitor conta que esse foi um dos conhecimentos que ele aprendeu no curso, testou na propriedade e atestou sua eficácia. Agora, ele quer introduzir cobertura de inverno para produção de silagem. “Como a gente produz milho, eu não sabia que tem plantas que ajudam a fixar nitrogênio no solo. No curso, eu aprendi que podemos fazer um mix em cima da terra. Nós já produzimos palhada, tanto no milho quanto no fumo, mas para o milho, tem plantas consorciadas que podem ser melhores”, aposta.  

Para o plano de negócio que os jovens produtores desenvolvem ao longo do curso, Vitor pensou em comprar um implemento, mas depois de conversar com a coordenadora, pensou numa alternativa para melhorar o seu dia a dia na plantação, junto da esposa Kayane. 

“Eu trabalho com silagem ensacada, e em dia de chuva não tinha como ensacar. Em dia de sol muito quente, a gente botava uma tenda de plástico para amenizar o calor, mas não adianta muito. Como a gente não tinha local para armazenar a silagem ensacada, eu vou fazer um galpão para armazenar, ensacar e ainda separar dos implementos”, revela.

Vitor também afirma que não tem dúvida que fez a escolha certa quando decidiu retornar para o campo. Não só ele, como o pai tinha tentado trabalhar como caminhoneiro, e a mãe como funcionária no comércio. Todos voltaram. “A gente viu que a vida fora do campo não é difícil, mas não é do nosso agrado. Então, voltamos e estamos nos dando bem. De vez em quando ainda tem uma briguinha, mas ninguém mais se mete no trabalho do outro. Ficou bem mais prático a partir do momento que os dois puderam pensar diferente”, conclui.

Por Renata Rosa, jornalista bolsista da Epagri/Fapesc

Informações para a imprensa
Isabela Schwengber, assessora de comunicação da Epagri
(48) 3665-5407 / 99161-6596

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